Imagina que você mora numa casa no alto de uma colina.
Um dia, uma tempestade muito forte quebrou uma janela. Exatamente aquela que você passava horas encarando vendo a vista lá de fora. No momento em que quebrou, você se assustou muito. Correu para fechar todas as outras. Com receio de passar por aquilo novamente, decidiu pregar tábuas, para nunca mais ter o vento entrando sem aviso.
Por um tempo, isso faz você se sentir mais protegida: ninguém entra, nada inesperado invade. Mas aos poucos, a casa escurece. Você não enxerga mais se tem sol ou chuva lá fora, muito menos a paisagem que adora admirar. Simplesmente, fica tudo no escuro. Na sua cabeça, apenas lembrança.
Entretanto, com o tempo, você deseja saber o que está acontecendo do lado de fora. Você começa a ficar mais atenta a qualquer sinal: escuta um barulho, pensa que é vento querendo arrombar de novo. Ouve outro som, acha que é alguém tentando entrar.
E quanto mais imagina, mais certeza você sente, mas continua tudo no escuro.
Abrir uma janela de cada vez pode ser assustador. Dá medo de uma nova tempestade. Mas também é o único jeito de ver o que realmente está acontecendo lá fora… se é vento, se é sol, se é só um passarinho batendo no vidro.
Se você fecha tudo de novo, fica só com suas certezas, mas não testa se são verdadeiras. Aí a casa vira prisão, não um abrigo.
E às vezes, sem perceber, quem mora com você também se sente trancado lá dentro, sem chance de mostrar que não tem vento, não tem invasão. Mas a vida vai continuar acontecendo lá fora.

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