E aí, Humanos. Só de boa?
Falar sobre desejo dentro de um relacionamento é uma tarefa delicada. Principalmente quando um dos parceiros começa a sentir que o outro “não está mais a fim” ou que “não demonstra mais vontade”. Para quem está do lado que espera mais iniciativa, mais carinho ou mais sensualidade, a primeira resposta costuma ser a cobrança: “Por que você não faz?”, “Por que você não reage?”, “Por que você não demonstra?”. Do lado de quem se sente cobrado, a reação mais comum é o fechamento. O corpo retrai, o afeto diminui, e até o pouco que ainda existia de vontade vai ficando menor. O ciclo é simples de entender e difícil de romper: quanto mais cobrança, menos vontade. Quanto menos vontade, mais cobrança.
É comum, em atendimentos clínicos, surgirem queixas sobre a “falta de desejo” como se fosse um problema individual, localizado apenas na pessoa que não toma iniciativa. Mas na prática, o que aparece com frequência é o seguinte: o desejo não some por acaso. Ele vai desaparecendo em contextos onde houve desgaste emocional, falta de cuidado com o clima da relação ou, em muitos casos, um histórico de interações marcadas por cobrança, pressão ou invalidação. Não é raro que, no meio dessa dinâmica, a sensualidade vire um campo de tensão, em vez de um espaço de aproximação. O que era pra ser convite, vira obrigação. O que deveria ser vontade, vira tarefa.
E isso vale tanto para o desejo sexual quanto para as pequenas expressões de afeto no dia a dia: um olhar mais demorado, um toque fora de hora, uma fala com tom de flerte. Tudo isso só acontece de forma natural quando há segurança emocional para que aconteça. O problema é que, muitas vezes, o parceiro que cobra mais atenção ou mais sensualidade faz isso sem perceber que o próprio jeito de cobrar já está minando o espaço onde o desejo poderia nascer.
Quando a gente trabalha esses temas em terapia, uma das tarefas mais importantes é ajudar as pessoas a reconstruírem o espaço do diálogo. Não o diálogo de acusações, mas o diálogo de perguntas reais. Perguntas que buscam entender o outro e não apenas confirmar uma hipótese prévia. Perguntar, por exemplo: “Quando você fala em mais sensualidade, o que exatamente significa isso pra você?” ou “Você lembra de alguma situação em que se sentiu desejado de verdade?”.
Esse tipo de conversa não resolve tudo de imediato. Nem sempre traz uma resposta pronta. Mas tem um valor fundamental: interrompe o ciclo de suposições e começa a criar um espaço mais seguro, onde o desejo pode, aos poucos, voltar a existir.
No fim das contas, o que falta não é só desejo. Falta o espaço para desejar. Falta um ambiente emocional onde seja possível querer, sem medo de cobrança, sem antecipar frustração e sem a sensação de estar sempre devendo algo ao outro.

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